Jovem supera limitações da microcefalia e dá exemplo.

Quando Ana Carolina Cárceres nasceu, há 24 anos, sua família foi avisada de que ela morreria em breve. A menina foi diagnosticada com microcefalia, uma síndrome que limita o crescimento do cérebro do bebê, afetando seu desenvolvimento motor e intelectual. Ao serem questionados pelos pais, os médicos descreveram o destino de Ana: 'Ela não vai andar, não vai falar e, com o tempo, entrará em um estado vegetativo até morrer'. 

Esta previsão terrível devastou o casal, que tinha muitos planos para o futuro de sua garotinha recém-nascida. Porém, apesar do choque, eles decidiram que fariam de tudo para que sua filha tivesse a melhor vida possível. Eles ainda não sabiam se Ana sobreviveria, mas resolveram batalhar por ela.

A família mato-grossense não tinha muitos recursos, mas encontrou os meios necessários para que Ana Carolina pudesse ser tratada. Aos 9 dias ela passou pela primeira cirurgia, cujo objetivo era corrigir um afundamento na face. Durante o procedimento, a menina teve duas paradas cardíacas e precisou de uma transfusão de sangue. Mas ela sobreviveu. Aos poucos, ela foi se desenvolvendo, contrariando o prognóstico dos médicos.

Diferentemente do que ocorre nos bebês saudáveis, o crânio de Ana já nasceu selado, sem as as aberturas que garantem a flexibilidade para o crescimento do cérebro. Portanto, ela teve que passar por outras 4 cirurgias até chegar aos 13 anos. "Pelo menos a cada um ou dois anos eu tive que fazer a cirurgia de novo para tirar mais uma parte do crânio até que o cérebro se desenvolvesse totalmente", ela relata.

A rotina pesada de hospitais e operações não a impediu, entretanto, de frequentar a escola. Apesar das limitações impostas por sua condição, a menina conseguiu algo que parecia impossível: aprender normalmente. Ao longo de cada ano letivo, ela provou que a microcefalia não necessariamente impede uma pessoa de ter um desenvolvimento intelectual. No colégio, sua única restrição eram as aulas de educação física, vetadas devido a fragilidade da sua cobertura óssea na testa.

Mas Ana Carolina tinha sonhos ainda maiores. Ela queria fazer faculdade. Sem maiores problemas, esta menina - que foi desacreditada pelos médicos - conseguiu ingressar no curso de jornalismo. Recém-formada, a jovem está agora procurando emprego. Como tema de seu trabalho de fim de curso, ela escreveu um livro contando sua história. Intitulado "Selfie, em meu autoretrato, a microcefalia é diferença e motivação", o livro conta a experiência da jovem, além de narrar a saga de outras cinco famílias, vítimas de dramas semelhantes.

Para seus pais, a formatura foi um momento emocionante: "A gente não sabia se ela ia andar, se ela ia falar, se ia ouvir e hoje esta aí, como vocês estão vendo, formada em jornalismo. Fez o curso tranquilamente, tudo de bom", conta o pai da jovem, Ermínio Cáceres. Além de amar sua nova profissão, Ana também é apaixonada por música e toca violino e canta desde os 7 anos.

Recentemente, sua vida discreta acabou entrando na mira dos holofotes. Com o aumento dos casos microcefalia, devido a epidemia de Zika, Ana Carolina resolveu se manifestar publicamente contra o pânico que a síndrome tem gerado. Suas declarações acabaram transformando-a numa espécie de porta-voz das vítimas. Através de sua história, a jovem deseja provar que os afetados podem sim ter a chance de ter uma vida normal. "Eu tenho 24 anos. Conheço muita gente com microcefalia que tem 30, 40 anos e trabalha, tem uma formação. Eu sou uma prova viva de que essa doença 'não é tudo isso'."

Para milhares de pais, estas palavras trazem esperança e alento. Apesar de Ana Carolina ter tido muita sorte na evolução de seu quadro, ela acredita que outras crianças possam, sim, ir além das sombrias previsões médicas. 

 

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